V
O quarto onde tinha ficado Miguel, era enorme. Cada um dos quatro rapazes tinha a sua cama, tapetes um pouco desgastados preenchiam o chão, ao lado de cada cama uma pequena mesa com uma imagem de Nossa Senhora de Fátima. As gavetas que cada mesa tinham serviam para os mais novos guardarem os seus pertences e as suas coisas, mas tinham que ter cuidado com o que escolhiam para lá deixar pois eram revistados todos os dias. A parede tinha apenas um quadro que mostrava um pastor a tentar controlar as suas ovelhas, preto e branco. Sem rádio. Sem televisão. Sem nenhuma distracção.
O quarto onde tinha ficado Miguel, era enorme. Cada um dos quatro rapazes tinha a sua cama, tapetes um pouco desgastados preenchiam o chão, ao lado de cada cama uma pequena mesa com uma imagem de Nossa Senhora de Fátima. As gavetas que cada mesa tinham serviam para os mais novos guardarem os seus pertences e as suas coisas, mas tinham que ter cuidado com o que escolhiam para lá deixar pois eram revistados todos os dias. A parede tinha apenas um quadro que mostrava um pastor a tentar controlar as suas ovelhas, preto e branco. Sem rádio. Sem televisão. Sem nenhuma distracção.
Miguel abriu os olhos de modo preguiçoso, os seus ouvidos
ainda demoraram alguns segundos a assimilar as palavras da senhora Madalena. A
idosa batia com uma panela contra outra panela exigindo que os quatro ocupantes
daquele quarto acordassem.
- Vamos lá, jovens! São horas de acordar!
O rapaz observou os outros três companheiros de divisória a
levantarem-se num ritmo muito mandrião. Porém, assim que a velha ameaçou chamar
o senhor Jorge, todos eles sem excepção aceleraram as suas acções. A senhora
Madalena saiu para continuar o seu serviço de despertar.
- Vamos. – disse Vasco – Temos que estar na mesa daqui a
pouco.
- Esperamos por ele? – questionou Guilherme – Pelo Miguel?
- Nem pensar. – respondeu Vasco subindo o seu tom de voz para
ter certeza que Miguel ouvia – Ele que se lixe.
- Vamos lá então, senão o senhor Jorge fica furioso –
alertou Nuno – E é a última coisa de que precisamos.
Os três saíram do quarto, Miguel saiu da cama e começou a
vestir-se. Ao longe continuava a ouvir o barulho das panelas. Não fazia ideia
das horas, olhou à sua volta e não havia por ali um relógio sequer.
Subitamente, um barulho alertou-o para a porta, virou as suas atenções para lá
e pareceu-lhe ver um vulto a desaparecer de repente. Não desviou os olhos da
porta, sabia que estava ali alguém. Os cabelos negros, longos e desalinhados
denunciaram uma rapariga, dos seus aparentes dez anos. Ela, de olhar esverdeado
amedrontado e rosto sujo, espiava o jovem.
- Quem és tu? – perguntou Miguel – O que é que fazes aqui?
A rapariga não respondeu. Mas não foi preciso esperar muito
tempo para que o rapaz ficasse a conhecer o nome dela. Vindo do nada, um senhor
balofo e bigode esticado apanhou a miúda pelas orelhas.
- O que é que já te avisei, Vânia? – interrogou o homem –
Quantas vezes vou ter que te repetir que não te quero a andar pelos corredores?
- de seguida, o homem fixou o seu olhar
em Miguel – E tu! Já são mais que horas de estares na mesa! A tua sorte é que é
o teu primeiro dia senão haveria castigo.
Assim que o homem saiu com a rapariga, Miguel sentou-se na
cama atordoado com toda aquela estranha situação. Assim que se recompôs acabou
de vestir-se e foi para a mesa de pequeno-almoço.
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