sábado, 8 de junho de 2013

Culpado - Capítulo II

II

As gotas de chuva que soavam nas janelas anunciavam o dia seguinte à tempestade. O chão daquele quarto estava infestado por puzzles de roupas espalhadas por todos os locais possíveis. Na porta semiaberta entre o quarto e a sala um pequeno gato branco e de pelos enrolados miava sem descanso. A mesa de trabalho estava completamente desarrumada com papéis à deriva, o pc tinha-se entrado em suspensão automática depois de reproduzir diversas listas Spotify. As roupas misturavam-se no chão anunciando uma noite de paixão. O despertador tocou. Ela esfregou os olhos, olhou para o seu companheiro e suspirou, de seguida parou o despertador e começou a recolher a sua roupa do chão para se vestir. Fez uma carícia no gato e dirigiu-se à cozinha, colocou uma tigela de whiskas no chão para o seu animal de estimação, serviu-se um café e fumou um cigarro para relaxar. Procurou o seu telemóvel no meio da confusão do quarto e assim que o encontrou assustou-se, mais de uma dezena de chamadas perdidas de António, o seu irmão António Carvalho. Ela, Maria, vivia na cidade, a alguns quilómetros da vila, porém apesar da proximidade os dois mal falavam.

- António? – disse mal ouvi um olá tremido do outro lado – O que aconteceu?
A situação foi explicada rapidamente. O seu sobrinho havia sido acusado de violação. A esperança de António recaía em Maria, sua irmã, advogada, as diferenças entre os dois tinham que ser postas de lado pelo bem de Miguel. António contou tudo em lágrimas, como Fonseca, gnr natural da vila e já perto da reforma, apareceu na loja de pesca, o que ele disse, como ele prendeu Miguel perante o espanto de António. O desespero do filho enquanto era arrastado pelo velho conhecido Fonseca gritando que não tinha feito nada de mal.
Maria dirigiu-se à casa de banho e tentou-se recompor, a chamada tinha-lhe roubado algumas lágrimas. De seguida encaminhou-se até ao quarto e chamou por Marco, seu companheiro de cama.
- Vamos, levanta-te! – exclamou ela – Tenho que sair.
- O quê? – exclamou ele confuso e ainda cheio de sono – Tão cedo?
- Provavelmente vou ficar uns dias na vila.
- Assim de repente?


- Marco, Marco…- sorriu ela abeirando-se dele – Pensei que isto estava claro – roubou-lhe um beijo – Não te devo satisfações nenhumas. Isto é só sexo.

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