I
As gotas de chuva não cessavam naquele dia cinzento.
Os jardins verdes que rodeavam toda a vila tornavam-se pálidas amedrontadas
pelas nuvens carregadas e ameaçadoras. O silêncio voava nos ventos fortes que
obrigavam os pássaros a refugiarem-se nos abrigos mais próximos deixando as
brincadeiras ocasionais para depois. O senhor Manuel, alto, barba branca, de
aproximadamente sessenta anos escondia-se na sua loja de recordações segurando
o prato de sementes que havia preparado para as pombas. A vila já não se
lembrava de um dia de tempestade como este. O ar agitado carregava metade de um
poema escritor por um jovem romântico que apaixonado por uma das raparigas mais
bonitas da escola, já os escrevia há dois anos mas nunca os assinava. O pequeno
pedaço de papel caiu em uma pequena poça de água pisada poucos momentos depois
por um rapaz de doze anos que corria fugindo da tempestade, a sua mão direita
agarrava a mão esquerda de uma rapariga que sorria. O miúdo, qual príncipe,
qual salvador de donzela em perigo trilhava o caminho mais rápido e menos
perigo para um porto de abrigo. Assim que toda a agitação começou, o rapaz
lembrou-se logo do apartamento de um tio que estava emigrado e do qual tinha a
chave porque no dia anterior tinha auxiliado a mãe na limpeza da habitação.
Os dois jovens entraram na casa, primeiro andar
esquerdo do número treze da rua número vinte e dois da vila. A porta altiva e
acastanhada ficou escancarada enquanto os dois jovens tiravam os casacos. A
rapariga encaminhou-se para a pequena sala que mal estava mobilidade, apenas
uma mesa e um sofá faziam parte daquele espaço enquanto o jovem fechou a porta.
Ela sentou-se no sofá vermelho e praticamente novo,
ele sentou-se ao lado.
- Obrigado, Miguel. – agradeceu ela sorrindo – És o
meu cavaleiro andante.- Não tens de quê, Lara – respondeu Miguel – Estamos bem agora.
Miguel e Lara tinham apenas doze anos mas já se
sentiam adultos, a verdade é que as suas conversas e tudo aquilo que faziam era
diferente dos outros. As brincadeiras normais da idade eram substituídas por
conversas sérias. Apaixonaram-se rapidamente. E neste dia de tempestade iriam
um passo mais à frente.
A tempestade abrandou, Lara olhava pela janela, o
seu rosto estava triste. Miguel levantou-se da cama e abraçou-a.
- Não gostaste? – perguntou Miguel – Sê sincera.
- Magoou-me um pouco. – respondeu Lara – Mas não sei…é
estranho.- Gosto muito de ti.
- Eu também.
Algumas horas depois, Miguel ajudava o seu pai na
loja de artigos de pesca. O senhor Carvalho, pai de Miguel, era dono da “Pescar
com companhia” há mais de vinte anos, paragem obrigatória para uma vila cheia
de pescadores. O jovem de doze anos passava horas a olhar para todo aquele material
e fazia companhia ao pai em várias tardes de pescaria, porém o seu sonho era
entrar mesmo em um barco, porém ainda era novo demais. A loja era pequena mas
possuía tudo aquilo a que um pescador faz falta, o cheiro “de pesca”
entranhava-se em Miguel que o adorava. O jovem estava a acabar de varrer a loja
quando entrou Fonseca, gnr já de alguma idade e com algum peso a mais,
conhecido por todos na vila.
- Meu jovem – começou ele apontando para Miguel –
receio que tenhas de vir comigo.
- Como assim? – questionou o senhor Carvalho – O que é que o meu filho fez?
- A menina Lara Santos fez uma queixa de violação contra o seu filho. O Miguel está em maus lençóis.
- Como assim? – questionou o senhor Carvalho – O que é que o meu filho fez?
- A menina Lara Santos fez uma queixa de violação contra o seu filho. O Miguel está em maus lençóis.
Grande texto, grande escrita :D como seria de esperar de ti Bruno :D
ResponderEliminarContinua, muita força, tens muito jeito!
Beijinhos
Sandrina