Escuro. Faz parte de mim. Não posso acender a luz…não
posso…se acendo a luz elas
aparecem…elas estão aqui…sinto-as…sei que basta uma gota de
iluminação para que
elas me ataquem…e por isso prefiro ficar aqui, abandonada no
escuro, na noite, aqui
elas não me apanham…ao contrário do que dizem em histórias
de terror…não é na luz
que reside a salvação…não é o escuro que traz os
demónios…não é o escuro que vos
traz de volta…Rita…Ana…Não queria magoar-vos…não…a culpa é
do vosso pai…do
estado de loucura em que me deixou…aquelas duas malditas
balas não eram para
vocês…não…nunca…porque se tornaram assim? Porque deixaram
cair as vossas asas
de anjo? Pudesse eu fazer umas novas….nem que fossem asas de
papel…desde a noite
da vossa morte me assombram….que querem que eu faça? Que
querem de mim se já
levaram o verdadeiro culpado? Se já mataram o vosso pai?
…Parem! Parem com essas
gargalhadas infernais…vão embora…não adianta esperarem…não
vou acender a
luz…nem que morra aqui à fome e à sede...não serei morta por
vós…não pelas minhas
filhas…não…não por elas.
O vento que soprava forte provocando barulhos assustadores
das persianas parou subitamente. As persianas abriram-se causando a invasão da
luz solar. Ao lado da mulher que chorava ajoelhada na cama surgiram duas crianças,
do seu lado direito Rita, pálida, vestida com um pijama colorido, a sua cara
estava pintada de sangue, a marca da bala da sua mãe encontrava-se por baixo
dos seus cabelos louros, do lado esquerdo Ana, de vestido branco manchado de
sangue, os seus olhos verdes olhavam para a sua mãe demonstrando todo o ódio
que sentia. A mãe tentou fugir mas foi bloqueada por uma força invisível que a
derrubou de novo na cama.
- Bem-vinda, mamã.
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