sexta-feira, 7 de junho de 2013

Do outro lado


Escuro. Faz parte de mim. Não posso acender a luz…não posso…se acendo a luz elas

aparecem…elas estão aqui…sinto-as…sei que basta uma gota de iluminação para que

elas me ataquem…e por isso prefiro ficar aqui, abandonada no escuro, na noite, aqui

elas não me apanham…ao contrário do que dizem em histórias de terror…não é na luz

que reside a salvação…não é o escuro que traz os demónios…não é o escuro que vos

traz de volta…Rita…Ana…Não queria magoar-vos…não…a culpa é do vosso pai…do

estado de loucura em que me deixou…aquelas duas malditas balas não eram para

vocês…não…nunca…porque se tornaram assim? Porque deixaram cair as vossas asas

de anjo? Pudesse eu fazer umas novas….nem que fossem asas de papel…desde a noite

da vossa morte me assombram….que querem que eu faça? Que querem de mim se já

levaram o verdadeiro culpado? Se já mataram o vosso pai? …Parem! Parem com essas

gargalhadas infernais…vão embora…não adianta esperarem…não vou acender a

luz…nem que morra aqui à fome e à sede...não serei morta por vós…não pelas minhas

filhas…não…não por elas.

 

O vento que soprava forte provocando barulhos assustadores das persianas parou subitamente. As persianas abriram-se causando a invasão da luz solar. Ao lado da mulher que chorava ajoelhada na cama surgiram duas crianças, do seu lado direito Rita, pálida, vestida com um pijama colorido, a sua cara estava pintada de sangue, a marca da bala da sua mãe encontrava-se por baixo dos seus cabelos louros, do lado esquerdo Ana, de vestido branco manchado de sangue, os seus olhos verdes olhavam para a sua mãe demonstrando todo o ódio que sentia. A mãe tentou fugir mas foi bloqueada por uma força invisível que a derrubou de novo na cama.

 Ambas irmãs sorriram.

- Bem-vinda, mamã.

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