sexta-feira, 7 de junho de 2013

Odys - Prólogo


Ano incerto.

 

 

Odys era uma região controlada pela temível rainha Hépates. Esta havia tomado controlo depois da morte do seu marido Dionísio. Dizem muitos que este havia sido morto pela própria mulher que desesperava para chegar ao poder. Acreditavam piamente que a rainha tinha envenenado o rei justo e adorado por todos para conduzir o reino que este fez crescer à escuridão e às trevas. Opinião ainda mais reforçada quando Seth se tornou no principal servidor da rainha.

Hépates dominava todo o mundo da feitiçaria, não existindo ninguém que lhe pudesse fazer frente nem mesmo Seth, não era só a magia...havia algo em Hépates...algo que a tornava insuperável. Inteligentemente a rainha mantinha toda a população presa nas suas aldeias, vilas e cidades para evitar qualquer tipo de rebelião contra o seu governo apesar de no seu íntimo saber que mesmo que todos os habitantes se unissem saíram derrotados da batalha...mas uma guerra dessas provocaria demasiadas perdas de vida, e a rainha precisava de todos para trabalharem nos seus campos e providenciarem alimentos.

O povo de Odys era assim vigiado dias e noite por Orcs, estranhas criaturas verdes, e sabiam que não podiam sair do limite do local onde vivessem.

As aldeias de Syllian, Hades, Vermillion, as vilas de Môndim, Caius e Chadybdis e as cidades de Bracara, Árdea e Odys preenchiam a região.

A aldeia de Syllian era a mais pequena, os seus habitantes eram pescadores e a maior parte deles idosos. Era a mais calma das zonas e por isso a maioria das pessoas escolhia aquela aldeia para o fim dos seus dias.

Na aldeia de Hades, havia sempre muita confusão entre os habitantes, pois estes passavam a vida a beber o vinho colhido pelas gentes de Vermillion. E sempre que um ou outro habitante bebia mais um pouco lançava insulto ao governo ou ameaçava um orc e a confusão instalava-se...normalmente acabando na morte do habitante.

Em Vermillion quase todos trabalhavam nas vinhas, vendiam o vinho para as aldeias vizinhas em operações totalmente controladas pelos orcs, sendo obrigados a dar uma percentagem bastante elevada do que colhiam à rainha.

Em Môndim ninguém tinha uma tarefa especial, dividiam-se por vários tipos de trabalho, o que se salientava na aldeia era um monte chamado Hakê , que era um refúgio dos crentes, profetas e poetas.

Caius era a aldeia dos lutadores.  Paysidin, um homem da extrema confiança da rainha, com a ajuda de inúmeros orcs treinavam os rapazes desta aldeia desde cedo para quando fizessem dezasseis anos juntassem-se à tropa real.

Chadybdis era a aldeia da caça. Todos os dias vários homens apanhavam coelhos, javalis e outros animais selvagens para consumo próprio, para vender e para dar à rainha.

Bracara era a grande cidade da cultura, com improvisados teatros de rua e carruagens cheias de livros para vender. Qualquer peça ou livro que colocasse em questão o governo actual seria impedida, em casos graves seriam queimados os intervenientes.

Árdea era uma cidade pacifica, os seus habitantes tinham acabado por acostumar-se ao domínio a que eram sujeitos e pensavam que tinham sorte pois não faziam os trabalhos pesados ao qual a população nas aldeias era sujeito. Vivia-se ali um clima de falsa paz.

Em Odys, o medo fazia parte do dia a dia. A rainha saia muitas vezes do castelo para se passear pela cidade e se encontrasse algo que lhe desagradasse, esse algo seria destruído. Seth era também um ser que cada vez que sobrevoava os habitantes da cidade deixava-os em sobressalto.   

O território de Odys terminava quando começava a floresta de Olimpo, com muitos seres mágicos, alguns inofensivos, outros terriveis, muitos deles já capturados pelos Orcs ao serviço de Hépates, tendo os mais perigosos ficado ao serviço da rainha, enquanto os outros eram cozidos e servidos em banquetes reais.

Além de Seth, o demónio vermelho que diziam descido do inferno, que tinha como particularidade poder tomar a forma de alguém, fosse quem fosse e quando o fazia absorvia os conhecimentos dessa pessoa, o reino de Hépates era ainda protegido pelo sombrio oráculo Caligõ.  Pouco se sabia de Caligõ. Chegara uma noite já há vários anos atrás ao castelo. Quando algumas horas antes tinha afirmado em uma taberna no centro de Odys que vinha para se instalar no castelo todos os presentes riram-se na sua cara. Caligõ não disse mais nada, não sorriu nem se mostrou zangado, simplesmente pagou a sua conta, meteu o seu carapuço na cabeça e lançou-se à noite furiosa, a chuva e o vento pareciam obstáculos muito complicados de ultrapassar.

- Aquele palerma vai se encharcar para ser corrido ao pontapé! – exclamou o dono da taberna sorrindo e provocando a gargalhada geral. 

Puro engano...A porta do castelo abriu-se para não mais se fechar...

No dia seguinte, aliás, nas semanas seguintes, na taberna onde o misterioso oráculo tinha jantado os comentários sobre este não cessavam. Afinal o que teria aquele velho de tão especial? Quem era aquele homem que ganhou a confiança do rei?

Tudo isso aconteceu antes de Hépates tomar controlo do trono, porém assim que esta o fez, os habitantes de Odys chegaram a uma mais que provável conclusão...Caligõ tinha vindo a mando da rainha...ele tinha ajudado Hépates a assumir o trono de alguma maneira...Mesmo assim não se descortinava o que havia de tão especial naquele velho e gordo que a população de Odys costumava ver sempre em tabernas de luxo.

O reinado de terror imposto pela rainha Hépates continuava dia após dia, reinado este que já se prolongava há quatro anos, até que um dia algo totalmente inesperado aconteceu...A paz da rainha seria perturbada por uma profecia que poderia mudar totalmente a sua vida e todo o futuro daquela região. Já antes vários habitantes gritavam nas ruas muitas vezes desertas que o salvador vinha aí, que o homem que derrubaria o trono ia nascer, o mágico ia aparecer, uns diziam que seria um homem nascido na própria cidade de Odys, um homem que ia nascer confrontado com aquela dura realidade mas que ao contrário de qualquer outro não ia sentir medo, ia treinar-se sozinho, adquirir poderes com a ajuda de Hallfytine, um estranho espadeiro que vivia em Odys, e que nasceria já com uma grande parte de magia dentro de si. Magia essa totalmente indispensável para derrotar a rainha. Outros afirmavam que o salvador chegaria das terras do Norte, as histórias falavam de um pequeno rapaz que tinha partido para essas terras longínquas já há muitos anos, ainda antes do reino de terror ter começado para se precaver com o futuro. Das terras do Norte voltaria já homem e forte, demasiado forte para Hépates. Apesar desta minoria de esperançosos, o resto da população da região estavam já conformados com a sua sorte e não previam que esta mudasse de um dia para o outro. Restava apenas continuar a trabalhar para a rainha desejando que esta desaparecesse cedo. Desejavam que ela morresse...

Mas se esta desaparecesse haveria Seth e Caligõ para continuarem aquele reinado de horror e por isso mesmo a esperança no futuro era pouca...muito pouca.   

 

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