Ano incerto.
Odys era uma região controlada pela temível rainha Hépates.
Esta havia tomado controlo depois da morte do seu marido Dionísio. Dizem muitos
que este havia sido morto pela própria mulher que desesperava para chegar ao
poder. Acreditavam piamente que a rainha tinha envenenado o rei justo e adorado
por todos para conduzir o reino que este fez crescer à escuridão e às trevas.
Opinião ainda mais reforçada quando Seth se tornou no principal servidor da
rainha.
Hépates dominava todo o mundo da feitiçaria, não existindo
ninguém que lhe pudesse fazer frente nem mesmo Seth, não era só a magia...havia
algo em Hépates...algo que a tornava insuperável. Inteligentemente a rainha
mantinha toda a população presa nas suas aldeias, vilas e cidades para evitar
qualquer tipo de rebelião contra o seu governo apesar de no seu íntimo saber
que mesmo que todos os habitantes se unissem saíram derrotados da batalha...mas
uma guerra dessas provocaria demasiadas perdas de vida, e a rainha precisava de
todos para trabalharem nos seus campos e providenciarem alimentos.
O povo de Odys era assim vigiado dias e noite por Orcs,
estranhas criaturas verdes, e sabiam que não podiam sair do limite do local
onde vivessem.
As aldeias de Syllian, Hades, Vermillion, as vilas de Môndim,
Caius e Chadybdis e as cidades de Bracara, Árdea e Odys preenchiam a região.
A aldeia de Syllian era a mais pequena, os seus habitantes
eram pescadores e a maior parte deles idosos. Era a mais calma das zonas e por
isso a maioria das pessoas escolhia aquela aldeia para o fim dos seus dias.
Na aldeia de Hades, havia sempre muita confusão entre os
habitantes, pois estes passavam a vida a beber o vinho colhido pelas gentes de
Vermillion. E sempre que um ou outro habitante bebia mais um pouco lançava insulto
ao governo ou ameaçava um orc e a confusão instalava-se...normalmente acabando
na morte do habitante.
Em Vermillion quase todos trabalhavam nas vinhas, vendiam o
vinho para as aldeias vizinhas em operações totalmente controladas pelos orcs,
sendo obrigados a dar uma percentagem bastante elevada do que colhiam à rainha.
Em Môndim ninguém tinha uma tarefa especial, dividiam-se por
vários tipos de trabalho, o que se salientava na aldeia era um monte chamado
Hakê , que era um refúgio dos crentes, profetas e poetas.
Caius era a aldeia dos lutadores. Paysidin, um homem da extrema confiança da
rainha, com a ajuda de inúmeros orcs treinavam os rapazes desta aldeia desde
cedo para quando fizessem dezasseis anos juntassem-se à tropa real.
Chadybdis era a aldeia da caça. Todos os dias vários homens
apanhavam coelhos, javalis e outros animais selvagens para consumo próprio,
para vender e para dar à rainha.
Bracara era a grande cidade da cultura, com improvisados
teatros de rua e carruagens cheias de livros para vender. Qualquer peça ou
livro que colocasse em questão o governo actual seria impedida, em casos graves
seriam queimados os intervenientes.
Árdea era uma cidade pacifica, os seus habitantes tinham
acabado por acostumar-se ao domínio a que eram sujeitos e pensavam que tinham
sorte pois não faziam os trabalhos pesados ao qual a população nas aldeias era
sujeito. Vivia-se ali um clima de falsa paz.
Em Odys, o medo fazia parte do dia a dia. A rainha saia
muitas vezes do castelo para se passear pela cidade e se encontrasse algo que
lhe desagradasse, esse algo seria destruído. Seth era também um ser que cada
vez que sobrevoava os habitantes da cidade deixava-os em sobressalto.
O território de Odys terminava quando começava a floresta de
Olimpo, com muitos seres mágicos, alguns inofensivos, outros terriveis, muitos
deles já capturados pelos Orcs ao serviço de Hépates, tendo os mais perigosos
ficado ao serviço da rainha, enquanto os outros eram cozidos e servidos em
banquetes reais.
Além de Seth, o demónio vermelho que diziam descido do
inferno, que tinha como particularidade poder tomar a forma de alguém, fosse
quem fosse e quando o fazia absorvia os conhecimentos dessa pessoa, o reino de
Hépates era ainda protegido pelo sombrio oráculo Caligõ. Pouco se sabia de Caligõ. Chegara uma noite
já há vários anos atrás ao castelo. Quando algumas horas antes tinha afirmado
em uma taberna no centro de Odys que vinha para se instalar no castelo todos os
presentes riram-se na sua cara. Caligõ não disse mais nada, não sorriu nem se
mostrou zangado, simplesmente pagou a sua conta, meteu o seu carapuço na cabeça
e lançou-se à noite furiosa, a chuva e o vento pareciam obstáculos muito
complicados de ultrapassar.
- Aquele palerma vai se encharcar para ser corrido ao
pontapé! – exclamou o dono da taberna sorrindo e provocando a gargalhada
geral.
Puro engano...A porta do castelo abriu-se para não mais se
fechar...
No dia seguinte, aliás, nas semanas seguintes, na taberna
onde o misterioso oráculo tinha jantado os comentários sobre este não cessavam.
Afinal o que teria aquele velho de tão especial? Quem era aquele homem que
ganhou a confiança do rei?
Tudo isso aconteceu antes de Hépates tomar controlo do
trono, porém assim que esta o fez, os habitantes de Odys chegaram a uma mais
que provável conclusão...Caligõ tinha vindo a mando da rainha...ele tinha
ajudado Hépates a assumir o trono de alguma maneira...Mesmo assim não se
descortinava o que havia de tão especial naquele velho e gordo que a população
de Odys costumava ver sempre em tabernas de luxo.
O reinado de terror imposto pela rainha Hépates continuava
dia após dia, reinado este que já se prolongava há quatro anos, até que um dia
algo totalmente inesperado aconteceu...A paz da rainha seria perturbada por uma
profecia que poderia mudar totalmente a sua vida e todo o futuro daquela
região. Já antes vários habitantes gritavam nas ruas muitas vezes desertas que
o salvador vinha aí, que o homem que derrubaria o trono ia nascer, o mágico ia
aparecer, uns diziam que seria um homem nascido na própria cidade de Odys, um
homem que ia nascer confrontado com aquela dura realidade mas que ao contrário
de qualquer outro não ia sentir medo, ia treinar-se sozinho, adquirir poderes
com a ajuda de Hallfytine, um estranho espadeiro que vivia em Odys, e que
nasceria já com uma grande parte de magia dentro de si. Magia essa totalmente
indispensável para derrotar a rainha. Outros afirmavam que o salvador chegaria
das terras do Norte, as histórias falavam de um pequeno rapaz que tinha partido
para essas terras longínquas já há muitos anos, ainda antes do reino de terror
ter começado para se precaver com o futuro. Das terras do Norte voltaria já
homem e forte, demasiado forte para Hépates. Apesar desta minoria de
esperançosos, o resto da população da região estavam já conformados com a sua
sorte e não previam que esta mudasse de um dia para o outro. Restava apenas
continuar a trabalhar para a rainha desejando que esta desaparecesse cedo.
Desejavam que ela morresse...
Mas se esta desaparecesse haveria Seth e Caligõ para
continuarem aquele reinado de horror e por isso mesmo a esperança no futuro era
pouca...muito pouca.
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